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As Oficialas de Justiça e os desafios no exercício da profissão

terça-feira, 06/03/2018 10:03

O exercício da profissão de Oficial de Justiça Avaliador, pela sua própria natureza, é repleto de desafios. Não somente pelos necessários deslocamentos, muitas vezes para lugares inóspitos ou isolados, mas principalmente por sermos em grande parte portadores de notícias que irão acarretar uma intervenção maior do Poder Judiciário sobre a vida daqueles que nos recebem em suas casas, gerando conflitos.

Embora as tarefas decorrentes da rotina de trabalho sejam iguais para homens e mulheres, é preciso reconhecer que os obstáculos recorrentemente não serão os mesmos. Devido a uma cultura machista que ainda impõe grande peso às nossa relações sociais, as Oficialas de Justiça, mais do que nossos colegas homens, são chamadas a todo momento a se impor e a, injustamente, ter que provar sua autoridade e capacidade de ação.

“Tem muitas pessoas que ainda acham que esse não é um trabalho para mulher pela sua natureza, mas vamos a cada dia superando todos os obstáculos e conquistando o respeito das pessoas em nosso importante mister”, reflete a Oficiala de Justiça Edilene Vasconcelos Rezende, da comarca de Patos de Minas.

A Oficiala Mary Lane Furtado Saba, de Belo Horizonte, segue a mesma linha de pensamento: “As pessoas acreditam que as mulheres são seres mais frágeis. Nós também enfrentamos situações adversas na profissão, mas a figura do homem ainda é vista como mais capaz pela questão física”.

Dentre as situações adversas apontadas por Mary Lane, estão o enfrentamento a pessoas armadas e a realização de diligências em lugares com alto índice de violência, como as favelas. Nessas situações, as oficialas são muitas vezes recebidas com hostilidade.

“Tem pessoas que ainda acham que sempre estamos trabalhando para a parte contrária, o que nos gera muitos embaraços até que consigamos nos fazer entender pelos jurisdicionados. Temos muitas vezes que fazer papel de psicólogos e tentar entender certos comportamentos para que possamos abordar as pessoas de forma mais tranquila e eficaz”, avalia a Oficiala de Justiça Eliane do Carmo Nascimento, da comarca de Betim.

A oficiala continua: “Como Oficiais de Justiça somos a imagem do Poder Judiciário na residência das pessoas, às vezes elas descontam em nós suas contrariedades, seus aborrecimentos, sendo ríspidas, às vezes grosseiras, mas devemos compreender que não é pessoal, não é em desfavor da nossa pessoa, mas em relação, muitas vezes, ao descontentamento delas com a estrutura judiciária, com as leis do nosso país”.

Esse sentimento da população de insatisfação com o judiciário expõe as oficialas a situações de grande constrangimento. “Por ser mulher, já sofri discriminação no cumprimento de Busca e Apreensão de um carro. Contudo, trata-se de uma diligência que é cumprida por dois oficiais, assim, o colega Oficial esteve ao meu lado o tempo todo e não deixou que o réu, que estava exaltado, continuasse sendo desrespeitoso”, conta Eliane.

Dulcinea Cavalcante Rivayo, Oficiala de Justiça da comarca de Belo Horizonte, também relata: “Certa vez entrei em uma residência para fazer uma citação e a pessoa simplesmente fechou a porta e falou ‘Agora você só sai quando eu te falar tudo o que eu tenho pra falar com o juiz’”.

Para a oficiala Mary Lane, a superação de situações como essas exige demonstração de conhecimento e segurança. Ela acredita ainda que uma mudança está por vir. “A população em geral ainda é preconceituosa, tem essa coisa de achar que a mulher não tem capacidade, tem medo. Esse fator em um país machista é cultural”. Ela finaliza apontando que no local onde trabalha a maioria do oficialato é composto por mulheres. “É um reflexo de que as coisas estão mudando”, conclui.