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DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

quarta-feira, 12/02/2014 19:34

Desembargadores que deveriam ser os primeiros a nos defender (estão) taxando os servidores de ‘inimigos ferozes’”

Leia, abaixo, o artigo da servidora da servidora da 2ª Instância da Justiça estadual e diretora do SINJUS/MG, Sônia Aparecida de Souza, publicado na edição desta quarta-feira, 12, do jornal O Tempo.

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

*Por Sônia Aparecida de Souza

sonia3fae@hotmail.com

Vivemos um estado democrático de direito, ou pelo menos, pensava que vivíamos. Sou servidora do TJMG desde 1997 e em todos esses anos, nunca me deparei com situação semelhante a esta que os servidores vêm enfrentando.  Vivemos o caos dentro desta Instituição, que deveria ser a primeira a zelar pelo cumprimento das Leis e pelo respeito aos direitos de qualquer cidadão. Mas o que vemos é um descaso recorrente para com o interesse público. Aqui os interesses pessoais vêm pesando bem mais na balança da “justiça” e colocando os interesses sociais à margem das prioridades.

Somos mais de 10 mil servidores espalhados pelo estado de MG e muitos trabalham em situação precária, tanto no que se refere à estrutura física quanto às condições para o exercício das funções. Submetidos a uma gestão sem compromisso com seus servidores, amargamos o descaso com a falta de uma política de recuperação salarial, de investimentos na nossa Carreira que hoje encontra-se ameaçada por um projeto de lei de iniciativa do TJMG e que tramita na ALMG.

Diariamente, vemos colegas indo embora, desistindo de trabalhar nessa instituição e os que ficam lutam para mudar essa realidade. Mas tudo parece ser em vão. Pelo menos esse é o meu sentimento quando vejo representantes do nosso Poder Judiciário, Desembargadores que deveriam ser os primeiros a nos defender, taxando os servidores de “inimigos ferozes”. Será que um servidor que é escalado para trabalhar em inúmeros plantões de fim de semana sem direito a receber hora extra ou um oficial de justiça que tem que pagar do próprio bolso para cumprir um mandado pode ser taxado de “inimigo feroz”?

Será que os servidores do TJMG, cujos salários iniciais estão entre os piores no ranking nacional, estão levando “vantagem” em relação à magistratura que recebe um dos maiores salários do País? Será que os servidores do extinto Tribunal de Alçada, que faziam jus ao auxílio-creche no valor de um salário mínimo e tiveram o benefício congelado por anos, sendo que atualmente o TJ paga menos que o valor correspondente a 1/3 do salário mínimo, estão satisfeitos com essa política?

Em resposta à fala do Desembargador Herbert Carneiro no respeitoso jornal O TEMPO, venho dizer com todo respeito: não há como comparar a situação do servidor com a do magistrado. Primeiro porque são carreiras distintas; segundo, os direitos que conquistamos a duras penas são legítimos e não benesses; terceiro, tanto servidores quanto magistrados merecem ser valorizados com o mesmo empenho e dedicação.

Infelizmente não é isso o que acontece. Tanto é que num mesmo ato, a Instituição enviou um projeto ao Legislativo pondo fim ao maior patrimônio dos servidores que é a Carreira, e outro projeto que amplia gastos com a magistratura, criando novos “penduricalhos”, onerando os cofres públicos em cerca de R$ 40 milhões.  Dois pesos e duas medidas. Não há outra verdade”

* Sônia Aparecida de Souza é servidora do TJMG há mais de 15 anos. Formada em pedagogia pela UFMG e pós-graduada em gestão pública.”