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Salários dignos, verba indenizatória, curso superior…?

terça-feira, 11/02/2014 17:39

Livre manifestação

Em um país pouco democrático como o Brasil, só com muita luta, companheiros!

Encontra-se publicado no blog do poeta Jorge da Cunha Lima, disponível no portal Ig, o texto intitulado “Participar de manifestações”, em que o autor dá um “puxão de orelhas” em jovens e até mesmo pessoas com idade mais avançada que vão para as manifestações com armas, quaisquer que sejam, ou dispostas a entrar em conflito com a polícia. Leia, a seguir, a íntegra do artigo:

Participar de manifestações

Na novela da violência urbana não há possibilidade de se substrair capítulos nem de mudar o comportamento dos personagens. O enredo da rua é a tragédia. Não a tragédia determinada pelos deuses, mas a tragédia produzida pelos homens. Um garoto, pintor de tatuagens, sente desejos cívicos de participar de protestos e passeatas. Tem todo esse direito. Na terceira participação, já havia aprontado em duas anteriores, aparece com um morteiro na mão. Entrega o morteiro a um companheiro, sabe-se lá se de passeata ou de vida. O companheiro acende o petardo em direção de um cinegrafista de televisão da TV Bandeirantes. Claro que ambos sabem que um morteiro é uma arma de fogo, que, detonada, pode produzir consequências. Revoltado ou revolucionário não pode nunca ser um amador, deve saber a consequência de seus atos, até mesmo para valorizá-los. Não pode pensar que morteiro daquele calibre é para enfeitar festa de São João.

Isso vale para qualquer cidadão que pretenda participar de passeatas e para qualquer soldado que seja convocado para manter a ordem nas mesmas. Quem atira um utensilio na multidão ou mesmo num quarteirão apenas conflitado deve conhecer as consequências do que faz. A rua, onde pessoas se reúnem para afirmar os valores da república, ou jornalista trabalham para cumprir seu dever de informar, não é divã de psicanalista, não é instância para se resolver a psicose existencial.
Santiago Andrade, jovem cinegrafista da Bandeirantes, está completamente morto, no que tem de mais humano, o cérebro. Seus pais, mais generosos do que
os assassinos, apesar do sofrimento, já autorizaram a doação de seus órgãos.

O morto sobreviverá em alguma instância misteriosa.

Quando você for à rua, participar de uma manifestação, não vá como um imbecil. Vá como um homem. Para que nem você nem a rua se desmoralizem.

Comentário do SINDOJUS/MG

O SINDOJUS/MG não vai entrar na onda do viés inteiramente conservador da cobertura do episódio do Rio de Janeiro a que vem recorrendo a chamada grande imprensa brasileira. A parcialidade, o sensacionalismo, os exageros são recursos que visam: primeiro, garantir audiência, venda de jornais e revistas, encher as “burras” de dinheiro com a captação de mais e mais anunciantes; segundo, tirar proveito desse momento de comoção das pessoas e, através de conjecturas e ligação de fatos, que às vezes não têm a mínima razão de ser, para, em ano de eleições, atingir políticos ou partidos políticos que sejam desafetos ou desinteressantes para a linha editorial ou para fins comerciais de tais veículos de comunicação; terceiro, para criar a ideia de que as manifestações de rua são ilegítimas e violentas, e por tabela, desestimular as pessoas de irem para as ruas e participarem – pessoas presas em casa, aliás, ligadas na TV e consumindo tudo o que ela divulga, é tudo que as emissoras querem.

Dentro desses objetivos, a morte do cinegrafista no Rio, assim como a fuga de Pizzolato para a Itália, ganha contornos imagináveis, inimagináveis e, principalmente, fantasiosos, com a missão única de “adestrar” o cidadão mais incauto. A sensibilidade frente à dor família do cinegrafista morto é o que menos importa, sendo falsamente manifestada apenas nas perguntas indiscretas e intermináveis a seus entes somente para aumentar ainda mais o sensacionalismo e a audiência.

Não. O SINDOJUS/MG não vai cair nessa armadilha.

As mobilizações que vêm ocorrendo em nosso país desde o mês de junho são uma mostra de que há muita gente com capacidade para pensar, pessoas com alto grau de discernimento e informação suficiente para se indignarem e reagirem diante das tramóias que o capitalismo e os mandatários dos poderes constituídos do Estado intentem impor à sociedade para garantirem seus interesses, sobretudo neste ano em que se realizará a Copa do Mundo no Brasil, queiram ou não os brasileiros. Ainda que com suas falhas, o que é natural para um país dilacerado por décadas de ditadura, as manifestações populares têm incomodado, razão pela qual já tramita no Congresso Nacional matéria legislativa que cria a possibilidade de enquadrá-las como crime de “terrorismo”.  É por isso mesmo que não podem parar.

O direito à livre manifestação de pensamento é um direito constitucional. Logo, é também um direito inalienável de qualquer cidadão, reivindicar ou garantir a manutenção dos seus direitos. E em um país pouco democrático como o nosso, conforme já dissemos, os benefícios não caem de graça nas nossas mãos. Nem por isso temos que aceitar essa situação. Temos que reivindicar, exigir abertura para o diálogo, ir para as ruas, mostrar a legitimidade dos nossos pleitos para ganhar força nas nossas mobilizações. Se queremos conquistar direitos, temos de lutar, e muito. Essa é a realidade que vivemos. É a situação dos pobres, dos negros e das minorias, dos trabalhadores em geral… dos servidores públicos. No caso dos oficiais de justiça, se queremos salários dignos, verba indenizatória em valores justos, cumprimento anual da data-base sem resistências, promoção vertical para todos que estejam intelectualmente habilitados, condições dignas de trabalho e respeito como cidadãos, sem concurso, temos que ir à luta. Não adianta ficarmos assentados e espernearmos. Temos que nos unir, debater os nossos pleitos, participar dos atos e manifestações e cruzar os braços quando a última saída for a grave.

Mas, colegas, com nos ensina o poeta Jorge da Cunha Lima, vamos usar a inteligência. Vamos defender os nossos direitos com argumentos e participando das lutas. Nas manifestações, façamos valer o nosso direito de falar, de debater, de defender o nosso ponto de vista. Procuremos nos manter informados, para vencermos com classe e legitimidade os nossos os nossos patrões ou os nossos opressores. Porém, participemos das manifestações de “cara” limpa. E nada de arma, quaisquer que sejam. Jamais levantemos a voz, a mão ou pé para agredir. Vamos todos – Sindicato e oficiais de justiça – para a luta. E se preciso for, vamos GREVAR.